quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Mãe e Filha

Há dias me pego pensando: o que é que me faz feliz?
E só um nome me vem em mente: Iasmim!

Desde que a minha mãe se foi, vivi de momentos, de felicidade passageira... sabe quando você vai na cozinha e "belisca" algo uma hora antes do almoço, só pra conseguir chegar até a hora? Pois é, algo que se enganasse.. é bem assim que vivi, aliviando a minha dor, procurando curativos...
E no momento que descobri que estava grávida da Iasmim, tudo mudou! Pensei comigo mesma: "essa vidinha aqui dentro precisa de mim, não posso transmitir tristeza pra ela " e foi com essa frase que passei os 9 meses de gravidez numa imensa calma.

Depois que ela nasceu, continuei tentando ser forte, como diz no nordeste "tampando o sol com a peneira". Procurei não pensar, não deixar relembrar a minha infância, minha adolescência... procurei não comparar as coisas, não associar as coisas que a minha mãe fez por e pra mim, com as coisas que faço pra Iasmim. Mas tem horas... ah, que eu sou fraca!

As vezes paro e fico observando Iasmim dormindo, aquela pessoinha tão linda, tão pura, tão abençoada por Deus... observo cada centímetro daquele serzinho que hoje é a razão da minha vida... aí, como um flash, me vem em mente as vezes que abria os olhos e via a minha mãe me observar enquanto eu dormia e só agora compreendo aquele olhar tão terno, tão longe, tão agradecido. Entendo sim, porque aqueles olhos se enchiam de lágrimas quando me via chegar da escola com notas exemplares, entendo porque as mãos ficavam trêmulas quando eu participava das apresentações de ballet, entendo porque minhas amigas eram também amigas dela, porque o meu quarto era a parte da casa que ela mais se fazia presente.
Hoje entendo os conselhos, as palavras, o silêncio que tanto doía. Entendo também o que antes me deixava com raiva: Mãe, o que a senhora quer de presente de aniversário? e ouvia: "Quero que você seja feliz, minha filha! Quero você perto de mim!" Ah, como eu entendo!
Entendo aqueles longos e apertados abraços.
Entendo porque uma simples rima feita por mim parecia um soneto do Vinícius...
Entendo porque as frases mal faladas, o tom de voz alterado por mim, a fazia mal... entendo que não era drama e chantagem emocional, coisa que eu acreditava ser....

Hoje entendo porque o Papai Noel só chegava pra mim e para os meus dois irmãos e nunca pra ela.
Hoje entendo porque ela "gastava" tanto tempo com bobagens, do tipo decorar cada folha dos meus cadernos da escola com tanto adesivos...
Sabe aquela mania de máquina de costura e de não querer que eu repetisse um vestido? Essa eu também compreendo!
E aqueles conselhos chatos e ladainhas imensas? Esses agora passaram a fazer sentido.

Tantas coisas agora passaram a fazer sentido...
Mas o "sentido" foi embora..
O sentido partiu...
O Sentido foi levada por Deus...

Queria poder sair com a minha mãe e a minha filha...
Queria poder tirar foto das gerações
Queria poder agradecer a minha mãe por todos esses olhares...
Queria poder ser uma filha melhor do que eu fui...
Queria poder fazer muito mais...
Queria dizer o quanto é maravilhoso ser filha...
Queria dizer o quanto aprendi com ela...
Queria vê-la costurar roupas para as bonecas da Iasmim....
Queria vê-la caminhar à beira mar pegada na mão da minha filha....

Queria tanta coisa que já não posso mais!

E eu só queria poder dizer Eu te amo, minha Mãe...

Mas tudo acabou ...

Hoje me resta fazer da Iasmim a criança mais feliz do mundo...
Fazê-la sentir o mesmo amor, gratidão e respeito que sinto pela minha mãe
Me resta encontrar a felicidade.. sem a minha mãe e com a minha filha

Eu e a minha filha

                                                                    Eu e a minha Mãe

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